Influência de diferentes características e da atenção com a forma corporal no comportamento alimentar de indivíduos adultos
Palavras-chave:
atenção, comportamento alimentar, escala, psicometriaResumo
Introdução: A atenção exacerbada com o corpo tem sido destacada como uma das principais características de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares e de imagem. Objetivo: Verificar a influência de diferentes características na atenção com a forma corporal e desta no comportamento alimentar de indivíduos adultos. Métodos: Indivíduos com idade ≥ 18 anos foram convidados a participar do estudo. Para avaliar a atenção com a forma corporal, utilizou-se a Escala de Atenção com a Forma Corporal (ABS), e para avaliar o comportamento alimentar, o Questionário Alimentar de Três fatores (TFEQ-18). A validade fatorial da ABS e do TFEQ-18 para a amostra foi verificada a partir de análise fatorial confirmatória (AFC). Na AFC, os índices razão de qui-quadrado pelos graus de liberdade (2/gl<5,00), Comparative Fit Index (CFI>0,90), Tucker-Lewis Index (TLI>0,90) e Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA<0,10) foram calculados e analisados conforme valores de referência. Elaborou-se um modelo de regressão a partir da modelagem de equações estruturais para verificar a influência de diferentes características [índice de massa corporal (IMC), classe econômica, exercício físico, autopercepção da alimentação e sexo] na atenção com a forma corporal e desta nos aspectos do comportamento alimentar [Restrição Cognitiva (RC); Descontrole Alimentar (DA); Alimentação Emocional (AE)]. As trajetórias hipoteticamente causais (β) testadas no modelo foram consideradas significavas quando p < 0,05. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista (C.A.A.E. 88600318.3.0000.5416). Resultados e Discussão: Participaram 996 indivíduos (70,60% = mulheres), com média de idade de 26,10 [desvio-padrão (DP) = 6,30] anos. A maioria dos participantes pertencia às classes econômicas mais altas (78,6%), realizava exercício físico (59,50%) e relatou ter uma alimentação boa/excelente (30,90%). O IMC médio dos indivíduos foi de 24,30 (DP = 4,60) Kg/m2. O TFEQ-18 apresentou adequada validade fatorial para a amostra (2/gl = 5,50; CFI = 0,96; TLI = 0,96, RMSEA = 0,07). Para adequação da ABS para a amostra, o item 3 foi excluído (2/gl = 7,34; CFI = 0,99; TLI = 0,98, RMSEA = 0,08). O modelo de regressão apresentou bons índices (2/gl = 4,6; CFI = 0,93; TLI = 0,93, RMSEA = 0,06). Observou-se influência significativa do sexo (β = 0,22; p < 0,001), exercício físico (β = 0,32; p < 0,001), alimentação (β = 0,82; p = 0,014), IMC (β = 0,22; p < 0,001) e classe econômica (β = 0,14; p < 0,001) na atenção com a forma corporal. A atenção com a forma corporal influenciou significativamente nos aspectos do comportamento alimentar (RC: β = 0,65; DA: β = 0,16; AE: β = 0,26; p < 0,001). As mulheres, os praticantes de exercícios físicos, aqueles com maior IMC, os pertencentes às classes econômicas mais altas e os que relataram ter alimentação boa/excelente apresentaram maiores escores de atenção com a forma corporal. Verificou-se ainda que, quanto maior a atenção com a forma corporal, maiores foram os escores de RC, DA e AE. Esses dados podem contribuir para rastreamento de comportamentos de risco para transtornos alimentares e de imagem em âmbito tanto clínico quanto epidemiológico. Conclusão: Características específicas dos indivíduos foram identificadas e podem ser relevantes para a investigação da atenção com a forma corporal e do comportamento alimentar, visando ao desenvolvimento de protocolos de prevenção/intervenção.
Financiamento: O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001. Também agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo financiamento do estudo (Processos #2018/21467-8).