A relevância da neurociência para formulações teóricas em medicina psicossomática: uma revisão
Resumo
Nos últimos anos, com o avanço da neurociência como possibilidade eficiente para o estudo da cognição e do comportamento, tem sido possível uma articulação ampla entre psicologia e biologia. Pesquisas têm sido feitas buscando evidenciar correlatos neurais de fenômenos comuns às áreas tradicionalmente psicológicas, como a psicanálise e a psicossomática. Frente a isso, o objetivo deste trabalho é desenvolver uma revisão bibliográfica sobre discussões e formulações teóricas em medicina psicossomática que estejam associadas/relacionadas com o conhecimento neurocientífico. Fez-se uma pesquisa nas bases PubMed e BVS (esta constituída por MEDLINE, IBECS e LILACS). Teve-se como descritores “neurosciences” e “psychosomatic medicine” nos campos “MeSH Major Topic” em “Advanced Research” (PubMed) e “Assunto Principal” em “Busca Avançada” (BVS). Teve-se como filtro data de publicação entre 2000 e 2016, inclusos esses anos. Foram selecionados artigos que se apresentassem sob os critérios: a) texto completo; b) apresentar uma abordagem teórica da psicossomática em associação com o conhecimento neurocientífico; c) texto em português, inglês ou espanhol. A análise dos resultados foi realizada identificando-se convergências e divergências entre os artigos quanto a metodologia, objetivo e resultados, de modo a ser possível uma articulação coerente entre seus conteúdos. Como resultado da pesquisa, somando-se todas as bases, obtiveram-se oito artigos, que puderam agrupados em três categorias temáticas: a) história das relações entre psicossomática e neurociência (três artigos); b) pesquisa de campo sobre correlatos neurais de fenômenos psicossomáticos (dois artigos); c) análises teóricas sobre a relevância da neurociência para a psicossomática (três artigos). Percebe-se, a partir da análise dos artigos das categorias, que: a) o desenvolvimento histórico da psicossomática, embora baseado no dualismo de propriedades cartesiano, esteve presente com frequência na própria história da neurociência, principalmente desde o século XIX, com estudos precursores das vias recíprocas entre áreas límbicas (relacionadas a processamento emocional), frontais (executivas e cognitivas) e autonômicas (relacionadas a respostas viscerais); b) pacientes com doenças “orgânicas” (como, síncope vasovagal e insuficiência cardíaca) podem, por decorrência, desenvolver (ou estar predispostos ao desenvolvimento de) complicações psicológicas, como ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Evidencia-se a relevância da neurociência em relação à compreensão da psicossomática, principalmente no que se refere às bases neuroanatômicas e neurofisiológicas do processamento límbico, cognitivo e executivo. Ressalta-se, ainda, a necessidade de mais pesquisas sobre um maior número de distúrbios psicológicos associados a doenças orgânicas.