Caminhos da integralidade
a dança circular como recurso terapêutico nos CAPS
Resumo
A assistência psiquiátrica no Brasil vem passando por reformulações nas últimas décadas, passando do modelo essencialmente asilar, para novas formas de assistência que incluem serviços substitutivos, o NASF e o PSF. As práticas complementares têm ganhado cada vez mais espaço dentre as atividades desenvolvidas e constituem um recurso terapêutico importante para o trabalho cotidiano. O presente artigo procura explorar a experiência da oficina de dança circular realizada no CAPS II de Patos de Minas no estágio profissionalizante de Saúde Mental e Saúde Pública, contribuindo para a atenção integral à saúde dos usuários de saúde mental. A dança não se restringe a uma sequência de passos ritmados, mas constitui-se numa forma de integração entre corpo, movimento, expressão e sentimentos, potencializando a criatividade e a comunicação entre as pessoas. A dança circular é um método criado pelo bailarino e pedagogo alemão Bernard Wosien na década de 1970, e tem revelado potencial terapêutico para pacientes psiquiátricos. Essa proposta de dança e expressão corporal permite a incorporação de movimentos, dando a oportunidade àqueles que a praticam expressar sentimentos e afetos que não se mostram pelas palavras, promovendo a integração e encontro dos participantes através do movimento. A necessidade de diversificar as oficinas terapêuticas no trabalho cotidiano do CAPS II é constante. O desinteresse dos usuários, aliado aos efeitos colaterais da medicação amiúde tornam-nos indiferentes, passivos ou resistentes às atividades da permanência-dia. Antes da oficina uma paciente demandou explicitamente aos estagiários que fizessem uma oficina de dança. Foi então realizada uma pesquisa bibliográfica e a escolha da dança circular mostrou-se uma alternativa viável e recomendada, pela experiência realizada em outros serviços de saúde mental. Para a atividade foram usadas uma seleção de músicas e o aparelho de TV da instituição. A oficina contou a participação de 20 pacientes, e durou aproximadamente 50 minutos. A atividade foi coordenada pela estagiária e por dois assistentes, também estagiários. Após instrução inicial os participantes deram as mãos e formaram um círculo. Os movimentos que inicialmente eram direcionados foram sendo gradativamente modificados pelos participantes, que se integraram à dança e propuseram de maneira criativa a condução da dança. Percebeu-se a participação até mesmo dos pacientes mais resistentes às atividades propostas. Notou-se a expressão de movimentos espontâneos, promovendo um sentimento de alegria e integração entre os pacientes que normalmente não é vista em outras oficinas. A busca da integralidade na assistência ao portador de sofrimento mental é um dos principais desafios para os CAPS’s atualmente. A dança circular como prática integrativa e complementar possui potencial terapêutico, despertando no paciente a criatividade, constituindo-se como importante recurso para o trabalho cotidiano.